Coelho era uma lebre do monte, feliz e saudável, vivendo em harmonia com a Natureza. Passeava livremente, percorrendo quilómetros e quilómetros por vegetação e ocasionalmente por estradas asfaltadas. Coelho tinha uma família numerosa, mulher e ninhadas de filhos orelhudos como o pai. Coelho era feliz, sim... até que numa noite de nevoeiro, dois faróis acesos nos máximos, lhe ceifaram a vida.
Ia eu toda contente de carro com um colega, por uma estrada escura cheia de curvas e contra-curvas, com um nevoeiro tão cerrado que não deixava distinguir estrada das inúmeras ribanceiras fundas, com as linhas de separação de vias tão apagadas, que nem por aí uma pessoa se conseguia orientar... Alguns gramas de álcool no sangue toldavam a vista, mas mesmo assim lá ia.
Foi então que o vi, Coelho, parado no meio da estrada, já quase em cima dele... Abrandei, para que escapasse e até parecia que o tinha conseguido com os pneus da frente... mas um dos pneus de trás provocou um pequeno solavanco. Não era uma pedra, mas a lebre Coelho. O meu colega nem se tinha apercebido, não fosse a minha reacção de nojo, mas logo que caiu na realidade, fez com que parasse para ver a dimensão dos estragos - na lebre, claro. E ali estava ela, ainda fumegante das entranhas desentranhadas. Eu nem queria acreditar! Ali vinha ele, pendurado por uma pata.
Já devem ter percebido a continuação da história... Coelho foi esfolado, arranjado e partido em pedaços e agora vai haver uma festa em sua homenagem, que por acaso coicide com o meu aniversário, onde irá ser comido!
FIM